quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Dentre os cobertores

Era um dia frio, em que com certeza daria para sentir as rajadas suaves de vento adentrar suas narinas e saírem deixando uma sensação queimante. Estava sozinho em minha cabana de inverno no sul do Chile, onde minha família se preparava para passar nossas férias de "verão". E como sempre tinha chegado adiantado, três dias antes dos outros para ser mais exato, e não foi uma má ideia. Amo o silêncio e a calmaria que só um lugar solitário e ameno pode trazer. O relógio já movia seus ponteiros para as 01:24 horas daquela madrugada de sexta-feira, a nem tão esperada sexta-feira 13. Essa data nunca foi de fato especial para minha família, já que não tinha sido "feliz" em nenhuma vez que adentrou nossas vidas, pois desde que me lembro catástrofes ligadas a nossa vida ocorriam sempre em uma sexta-feira 13: A morte do tio Ryan, o suicídio da minha prima Lúcia, o coma da minha avó Judith, o acidente de moto do Paul e diversos outros acontecimentos que não gostaria de descrever.
Por algum motivo desconhecido e mais do que esperado não conseguia dormir nessa madrugada, o frio, os ponteiros dos relógios que faziam absurdos barulhos com seus inúmeros tic tac's.. Eram alguns dos fatores que dificultavam meu sono.
Já estava me conformando com essa noite quando uma voz masculino e juvenil soou no meio do breu.
-Você não quer brincar comigo?
Gelei. Não sabia o que fazer, ou ao menos o que provavelmente responder... Um não talvez poderia terminar rapidamente com esse diálogo, mas ao mesmo tempo poderia ser o começo meu pânico. Então fiz o que qualquer pessoa com o celebro em boas condições faria: Se esconder dentre as cobertas.
Acabei me sentindo mais seguro, tudo parecia ter passado, soava agora só como um breve delírio do sono. Me preparava para tentar dormir mais uma vez, pensar em carneirinhos e contar seus doces pulinh...
-Vamos brincar de esconde-esconde? Te achei!
Como? Como diabos aquilo foi parar ali dentro?
Não conseguia me mexer. O medo tomava conta de todas as partes geladas do meu corpo, aaah, o medo é devastador, pode te deixar imóvel ou com a adrenalina a mil em divergentes momentos, e nesse em especial estava petrificado como uma estátua da medusa ou como uma escultura de gelo nas apresentações do Canadá.
Comecei a chorar de medo, não tinha opções, estava sozinho em um local vazio. Então com as poucas alternativas que tinha, tinha de arriscar algo, e foi o que fiz.
-Que.. quem é vo... você? -Falei com cinquenta tons de medo
-Alex, Alex Jackson Junior.
Como assim? Alex era meu nome, Jackson meu sobrenome... Como ele sabia meu nome, e porque ele o disse, eram dúvidas que rasgavam minha mente nesse momento. Meu pensamentos pararam quando sua voz percorreu pelos meus ouvidos com som de ódio.
-Você prometeu que ia brincar comigo, você prometeu!
-Como? Não prometi nada, o que é você? O que quer comigo?
-Você não devia dar esperanças falsas a seu filho!
-Como assim? Eu não tenho filho, muito menos sei do que está falando!
-Como assim não sabe? Você amou a mamãe, prometeu dar amor e carinho para nós, nos abandonou. Na sala de cirurgia, e você prometeu. Prometeu que nunca esqueceria da gente.. Mas esqueceu, esqueceu dos momentos que prometeu ao nosso lado, esqueceu do momento em que a levou na sala de aborto, esqueceu do momento em que me matou e a matou. Dentre tantas promessas, uma se cumprirá, você vai brincar comigo. E podemos começar pela forca.